quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

As histórias intransparentes dos limites secretos

Muito esforço para consertar a coluna. Tanta força para caber nos lugares, no canto do mundo, no sofá do amigo, no restinho vazio do coração. O meu papel era permanecer. Só existir, sem precisar super existir ou viver, aprender a respirar e deixar a natureza vencer os meus prédios, e os substantivos, meu adjetivos. A simplicidade de sorrir e não ter que parecer uma mulher bem sucedida no futuro, de vinte e poucos anos e apartamento mobiliado. Mas a solidão acontece como um daqueles pesadelos em que voce acorda no meio da noite, senta na beirada da cama e se aconselha "apenas volte a dormir, volte a dormir, voce  precisa, estava tudo bem a semanas atrás, o céu era azul e o sono bom, volte a dormir." Mas não é assim, nunca fica assim. As histórias que se formam com palavras que fazem sorrir, me despertam o choro. E o meu papel que era permanecer se transforma em fuga. Porque aquelas histórias entram, penetram, são milhares e são voce. São as imagens na minha cabeça de voce sorrindo pra mim em segredo.  Por isso eu não as conto pra ninguém, são verdades mas precisam de explicação e os outros não iriam entender e porque não podem ser contadas só por contar. Deve haver o coração desbravando por dentro tentando vomitar na areia aquilo que sempre ficará entalado no meio da garganta e porque querendo ou não, ninguém transborda de uma hora pra outra. Eternamente lacrimejando nos olhos. Daí eu fico corcunda e apertada, no mundo, no sofá ou no coração, porque não consigo ser feliz sem acreditar na felicidade. Lá fora é preciso ser herói e não ter medo da vida e das suas histórias e eu tenho. Muito medo, seja do ar, da amplitude, do espaço e da folga de nunca ter algo despertando no vazio desocupado. Acho que nunca terei tanto da vida como daquela vez que voce entrou no meu quarto, acariciou meu rosto e disse em silencio que o nosso amor era maior que tudo. Eu até pensei que iria conseguir,  mesmo sem voce, sair para fora da janela com as mesmas ideias e inspirações daquela época. Daí eu piso na calçada e vejo cacos de vidros no chão, árvores sem flores e cheiro camuflado de veneno. Depois todos me olham e sinto vontade de correr para dentro de novo, não quero que as pessoas vejam como estou, eu quero que elas me vejam como uma pessoa bem sucedida com um apartamento mobiliado. E aí, sorrir não é mais simples. Nem viver, é bom.


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