terça-feira, 13 de março de 2012

Minha dor é meu circo

O essencial é não tirar o sorriso do rosto. Ter o disfarce e o equilíbrio de um acrobata do Circo Saudade. O segredo é voar e roubar estrelas, como um anjo sem asas que se joga e é livre do cotidiano, do despertador, do rádio chiando. É ser incrível para quem assiste e bate palmas de pé, porque o ideal é fazer todos pensarem na vida como um espetáculo mágico, que somos artistas e nosso brilho não é só a purpurina, mas as palavras que residem no nosso olhar.

Eu já tive medo. De subir ao ápice da tenda e fracassar com o medo de cair. Mas eu me comprometi a ignorar as misérias e o olhar dos espectadores que foram eu busca de salvação, que não queriam que a minha queda fossem também a queda deles e o fim do caminho torto e real. Esse é o meu objetivo, enche-los de paz e não perceber o peso nas minhas costas e minha perna bamba.

Assim eu não sou só uma menina-vendaval, mas a proposta de esquecer o mundo e viver dentro de uma realidade insana e totalmente maravilhosa. É a minha vida ser bailarina, equilibrista, dribladora, construir sonhos misturados ao ar e as cores dos tecidos, das luzes. Dançar o corpo e pôr os cabelos para cantar as mais tristes canções ao som do violino cansado. Que em minutos cronometrados e frio na barriga ouve o batuque dos tambores e de repente tudo ganha sentido, por ser esse o meu papel: Artista. 

Que no fim, nunca recebeu rosas jogadas ao palco e a força da fé de uma criança, mas que na verdade tem um circo que todos esqueceram o nome, porque é facilmente esquecível. Uma turnê sem graça e palhaços empoeirados. Um teto de lona ilustrado céu turbulento de ressentimentos, de fatos. Voando ao relento até nunca mais ser visto. 

Eu não queria,  mas fiquei sozinha, sem compartilhar todas as apresentações, planos e amores. Tudo por um erro que apagou a noite, por um mínimo abrir de braços e arruinamento do encanto para a destroçante despedida. Ser princesa de roupa apertada não faz mais diferença ao olhar crítico do público que nunca mais estarão contentes e satisfeitos.

Mas que não deixa de ser meu circo, o meu show e minha coleção palavras mudas de cada olho negro que me viu um dia. O meu prêmio por receber sempre a despedida depois de um trabalho duro. Porque eu sei  que subindo escadas tão altas chegaria ao céu, então nunca mais desceria e teria os músculos contraídos ao abrir das cortinas.
A lua ama assisitir meu coração sem arte.

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