quinta-feira, 29 de março de 2012

Eu gosto do cheiro de pele

Não. Eu não sou o grande o suficiente para o mundo. Eu até posso respirar fundo, engolir as lágrimas só que mais tarde menos tarde eu engasgo com elas de novo. Eu até posso erguer a cabeça e sentir que tenho a capacidade de vencer suas sinestesias, só que mais jovem menos jovem eu sempre preciso sentar e descaçar um pouco. "Tudo bem, voce precisa disso, todo mundo precisa mais hora menos hora." Adriano disse pra mim. Preciso? Claro que sim, mas eu não quero. Quero provar que não preciso provar ser boa ou responsável demais para ser digna desse mundo. Eu quero que o mundo veja que embora pareça, ele não é tudo.

- Eu tenho que precisar sempre?  Só quero ser alguém, Adri.
- Voce é alguém, Joana, deixa disso. 
- Eu preciso de um carro pra ser alguém, eu preciso de dinheiro e bolsa bonita pra ser alguém.
- Voce só precisa de voce mesma.
- Mas o que eu tenho, Adriano? 
- Voce tem pele.

Lembro de passar o dia pensando nisso. Eu gasto tanto tempo querendo agradar as imposições que me foram enfiadas garganta abaixo, eu passo tanto tempo tentando me encaixar nos padrões que não foram feitos pra mim. E daí se eu quiser viver de outro jeito?  E daí se eu chorar?  E daí se eu quiser sentar no chão e sujar a barra da calça de lama?  Vou ser mais merecedora menos merecedora de oxigênio? Eu gosto da arte, eu gosto de voar com minhas asas de palavras. Eu gosto de sentir minha pele arrepiando quando dou um sorriso sincero, eu gosto da sensação de ter pele com pele conversando.

Eu tenho pele e nada mais importa. Claro que existem contas pra pagar, claro que a vida existe e talvez isso custe um preço, mas eu não vendo minha felicidade para um mundo que vai deixar-la apertada. Se o mundo quiser, ele se ajeite para caber em mim. E quanto a voce?  Que se atire a rebeldia também.

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