Acordo com o gosto de sangue na boca. Há uma semana tirei o aparelho dos dentes, mas ainda tenho a sensação de tê-lo comprimindo meus lábios ressecados durante a noite, assim como meu coração amanhece confortavelmente apertado entre os pulmões, que até posso ouvir suas batidas em descompasse com o sol nascendo a direita da janela do meu quarto. Parece um dia comum, e é. Lá fora alguém acorda pedindo por mais cinco minutos de sono. O pão abre as padarias e o barulho do chuveiro elétrico do banho quente avisa que mais um dia começou. A diferença está sempre no canto dos pássaros, os únicos esperançosos e sonhadores desse bairro distante do centro da cidade. Levanto da cama e procuro na minha imagem refletida no espelho o peso de mais um passar da noite. Meus olhos perguntam se parecem velhos, meu corpo diz estar cansado e minha alma não diz nada, apenas pensa se alguém ver o passar dos anos tão rápido sem sentir uma pontada de saudade das laranjeiras e do pé de tamarino como eu.
Onze de abril. Quarta feira. Menos um ano de vida, suspiro.
Meu reflexo me mostra flashes. Grama verde, chuva de mangueira, pomar, risos, infância. Suor, livros, lágrimas, dor na coluna, gastrite. Faculdade, emprego, carro, casa, família. Cenas do passado, presente e futuro passaram tão rápido que quase temi do que viria depois, mas a morte já não é mais o meu maior mistério. Bom? Não sei. Ruim? Talvez. O certo é não vai demorar e alguém abrirá a porta e vir ao meu encontro com um sorriso demente nos lábios me parabenizar por ter vencido o tempo e sua luta de sobrevivência. Um ano! Eu ainda me sinto a mesma pessoa, tentei mentir.
- Mas é claro que voce não é, seu cabelo está maior depois de doze meses.
- É verdade, comecei por achar que era pró-revolucionário e hoje só está desse tamanho por preguiça.
(Risos).
- Voce é muito especial, sabia?
- Obrigada.
E o dia acontece com um calor diferente, sabor igual. Proporções iguais, acontecimentos planejados. Rotina. Hoje é dia onze, amanhã será doze e depois é o fim do mês. Tudo bem. É sempre mais surpreendente do que parece.
Onze de abril. Quarta feira. Menos um ano de vida, suspiro.
Meu reflexo me mostra flashes. Grama verde, chuva de mangueira, pomar, risos, infância. Suor, livros, lágrimas, dor na coluna, gastrite. Faculdade, emprego, carro, casa, família. Cenas do passado, presente e futuro passaram tão rápido que quase temi do que viria depois, mas a morte já não é mais o meu maior mistério. Bom? Não sei. Ruim? Talvez. O certo é não vai demorar e alguém abrirá a porta e vir ao meu encontro com um sorriso demente nos lábios me parabenizar por ter vencido o tempo e sua luta de sobrevivência. Um ano! Eu ainda me sinto a mesma pessoa, tentei mentir.
- Mas é claro que voce não é, seu cabelo está maior depois de doze meses.
- É verdade, comecei por achar que era pró-revolucionário e hoje só está desse tamanho por preguiça.
(Risos).
- Voce é muito especial, sabia?
- Obrigada.
E o dia acontece com um calor diferente, sabor igual. Proporções iguais, acontecimentos planejados. Rotina. Hoje é dia onze, amanhã será doze e depois é o fim do mês. Tudo bem. É sempre mais surpreendente do que parece.
Nenhum comentário:
Postar um comentário