domingo, 27 de maio de 2012

A mulher da paz e eu

Distraída lembro-me de alguém, alguém tão longe e dentro da vida, alguém que me consome quando explode o coração. Há muito tempo ninguém me dá tanto sufoco assim. Sufoco e paz. Uma paz para o alto, saciada, forte e corada. 

A inquietação é sempre minha cabeça perturbada com algo bom, como um brando desespero. Uma dor viciante, compulsiva e confortável de sentir. Como a paz da mulher. A menina que cresceu além e transformou-se em mulher. E é bem nela que se esconde o que eu não espero em alguém: Pausas. Ela é entupida de pausas. De silêncios internos, uma vivência prematura de padrões desconhecidos ao corpo. Quando atento-me para sua história frágil tomo choques de lembranças: Se eu vivesse sua vida teria morrido. E quantas vidas eu tive para estar ainda de pé.

A mulher é intocável, porque é tão sublime que chega a não ser físico embora seja amante do calor humano. E  sua temperança é, sobretudo, inatingível: O mais alto nível de paz. Livre para ser o que quiser e esperar o que quiser: Uma pausa tão tranquila e fresca que seria impossível alcançá-la. Como uma vela recém acessa no cômodo escuro e misterioso: Nada pode apagar seu semblante, nada pode dominá-la, ela é cheia de si, de Deus e do espaço. Sua paz é sua essência. 

Seus olhos são profundos e descrevem a boa parte do tempo que passou sobre si refletindo em coisas que passavam paradas, ciente da loucura de ter dentro do estômago, borboletas e bombas. Flutuando e explodindo simultaneamente, criando uma mistura singular e pesada. Sua pele queimada pelo sol é espelho do que se perdeu por dentro e sobe para os cabelos os embaraços da vida. Seu suor chega ser dor líquida. Por Deus, um sentimento brota morto e pula para fora: Ela nunca cansou de existir porque ainda que composta em tristeza, sempre se cobria do amor divino. De onde vem tanta esperança se não do céu? 

Seu jeito de passar a mão nas coisas me desperta raiva. Um gesto tão leve, um toque tão puro, os braços descarregando uma felicidade sem motivos. E com tantos motivos para não ser, ela permanece intacta, como se nunca tivesse a abandonado, como se soubesse do próprio fim. Ela não se importa com que passou, passa e passará. Paz. Nos olhos, estômago, pele, suor, mãos. Paz na dúvida, no talvez e também no determinado. Chego a pensar que é sua pertencente, ela é própria Paz. 

Seus acontecimentos sofridos e traumáticos escorrem sobre ela, assim como os inesquecíveis momentos no ápice da alegria, e caem em águas do mar de fora. Nadam para fora de si e sobra apenas ela e sua sabedoria e domínio. Preocupa-se docemente, lamenta serena, nunca chora e quando sorri me afoga com tanto impacto: Ser viva sem cautelas, nada pode impedir a vida a flor-da-pele.

Penso que jamais terei tanta inteligência para compreendê-la, acima de si está qualquer raciocínio, qualquer atitude exprimida de calma em vão. Eu repouso na voz da mulher da paz para absorver mais ternura e me frusto impaciente: Eu não sei ignorar a personalidade para que ela funcione mais competentemente.

Verdade ou mentira? A vingança do mundo quando me percebeu.

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