terça-feira, 22 de maio de 2012

Quando acordei

Eu tenho pensamentos que brilham como luz cegando meu caminho, quase desligados da realidade. Um súbito de vida. Isso, eu sou inesperadamente chamada a viver ainda que eu prefira dormir no leito das estrelas, reluzindo os sonhos que eu não tenho, só as memórias escorrendo de mim e fazendo chuva. Eu pingo lentamente sobre a cabeça fulminante. Sobre as lembranças e futuro que eu merecia ter. 

- Ei Acrobata! A voz despertou-me tão sabida do acontecimento e invasora. "Deixe de ser epifânica". E eu caio em mim tão pesada que não me suporto o peso. A realidade acontece com tanto ar solto que eu fico tonta e me asfixio. Estar sóbria nunca apareceu nítido para mim e é por isso que dói. O fato é tão certo de si, tão sem controversas e real que meu íntimo fica desconsolado, perdido entre um fato e outro, e eles nunca cessam, eles nunca param de acontecer e eu sei que esse é o porquê da minha inexistência. Ou da minha intra-sabedoria de mim escondida e medrosa, agarrada na garganta que evapora no sono com o céu. 

Depois do curto tempo de vida sob efeito anestésico da verdade que se confirma em mim quando de imediato eu reflito sobre a vida e sei que ela não é lógica. Não é, como seria? por Deus. Observo ligeiramente que a casa está inundada de sol, parece que em um segundo desligada do mundo, ele resolve se abrir para minha distração e sair de mim, ao ponto de ninguém mais ter consciência que meu pensamento estala com tanta segurança: Eu sou a única do mundo que lembro de alguém que jamais conheci. A luz vai embora, fico oca de pensar... 

- É que eu me distraio muito.
- Epifânica e pronto. 

Eu volto ao meu movimento sem lógica e jogo a cabeça para trás, e tudo em mim que estava no lugar, bagunça, amontoa, faz barulhos, perguntas. Nossa. Eu poderia não amar o tocável se quisesse, só que eu sempre lembro de alguém depois. É a única surpresa esperada e esgota minhas fantasias brilhantes. Eu lamento docemente e minha lágrima cai como velha conhecida, simples, profunda, seca. De tal modo que ninguém a ver, mas eu sinto. A sinto junto do lado esquerdo da minha cama. Tremores. Impossível ignorar áquela hora, aquele instante que aconteceu em todas as minhas camadas. Que cai e fui feliz silenciosa. 

Eu fico cega de corpo, de tato. Definitivamente, o sopro de vida é escrever. Porque eu não consigo mais olhar o mundo com apenas dois olhos. Minha saudade comunica com a piedade e misericórdia de mim e diz para sermos cansados juntos, baixinho. Como todos os poetas dizem. Durmamos sobre o escuro da noite.

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