quarta-feira, 25 de julho de 2012

No medo, a constante volúvel

   O que de mim não se eleva é a coragem, principalmente, quando é noite e eu ainda não adormeci e os pensamentos vêm como um grande perigo que não se solidifica, feito fogo. Eu me sinto tão leve e ardente como o fogo, que parece flutuar e queimar-se todo e quieto. A dor forte e calada, me invadindo e se realizando, sobretudo, nesse medo meio inacabado tentando gritar e mover em desejo vão. Um timbre que faz vibrar em ondas secas vindo de longe navegando, um pouco frágil e perdida, no estômago. Eu agora estou lúcida.

   Um medo que habita em mim como um animal vivo afogando, procurando com força libertar-se e respirar. E ergue e se abre para o ar, entregando-se as moléculas cegas e cristalinas alagando a alma. Ainda sim, sem perder o encanto diante dos próprios mistérios. Ó Deus, quase não há espaço dentro de mim para eu saber se existe o tempo de morrer, um instante para notar que a incompreensão de mim mesma diante desses momentos cairá sobre mim como uma pedra mal feita e pesada: qualquer luta ou descanso é impotente, então nada impedirá meu caminho sem volta. 

   Como ser herói sem desejar vencer as coisas?

   Impossível explicar, porém. Afasto-me rastejante dessa zona de formas fixas, onde tudo é estável e escorro pelas frestas insondáveis, onde pairam o suor líquido e a névoa fresca da madrugada. E o produto ainda consegue obter o mesmo sabor amargo. Alguma coisa pisca vigilando do lado de fora tentando entender mas ainda fica à margem sem se permitir viver. Já não há nada preciso e nítido, apenas minhas mãos que não podem possuir todo o mundo e moldá-lo nessas formas sem arestas. Tudo, se contorce e se enterra. Tudo, tudo, tudo. Sentimento docemente amorfo.

   As palavras ainda não conseguem se vingar, dar a resposta fria e sombria capaz de escurecer sereno os acontecimentos e o tempo. O olhos cobertos e sem tato. Fugir ou ficar preso, juntos em uma só opção porque tudo se repousa no mesmo local. Os caminhos estão vedados e a luz acessa pendendo que faz doer a cabeça. Vivi muito, anos inteiros e ainda sim um corpo que não conhece a pele. Não poderia ser constante, exceto a mutalidade. 

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