sexta-feira, 10 de maio de 2013

Andando pela rua de pés calmos e cansados, nas mãos uns livros grifados e fome. Parecia que era disso que você se tratava. Apenas disso e mais um cigarro queimando lentamente poluindo os pulmões. Você passava em frente aos bares e via as pessoas bebendo, brigando e se enlouquecendo. Você andava por cima dos tapetes empoeirados e desgastados de boas-vindas. Você via a biblioteca municipal sendo fechada às dezoito horas e dois míseros minutos e tudo bem. Faz um tempo que você perdeu a doce urgência de viver. E mais ainda: terminava sempre um texto novo com um ponto de interrogação como se fosse um deus. E na cabeça sempre aquela música que alguém se acovardou a tocar. 
Qualquer um podia deduzir que sim, era simplesmente disso que você se tratava. Mas ninguém ousou pensar  ou pronunciar as palavras sobre você. Era só um fantasma perambulando pelas ruas que, misteriosamente, não se fazia possível. A possibilidade nunca foi o seu forte, muito menos, sua fraqueza. Apenas não havia maneiras de te alcançar. Intangível. E não havia argumentos contra você. Era cruel e duro saber disso também. Como muitas coisas na vida são cruéis e duras, mas você não era a vida. Eram dois olhos distantes, cabelos espalhados e pele derretendo. Uma casa sem paredes. Uma rua inteira sem esquinas. Um corpo sem pernas que mesmo assim tema em ir embora sozinho. Ah, com certeza, eu insistia, tentando ser salva da sua distração - era disso que você se tratava. Mas não. Não era. Ah, por Deus, não era. 

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