sábado, 11 de maio de 2013

solidão

Por que eles dizem nunca mais, Eugênio? 
É sempre assim: uma coisa ou outra, todas as coisas ou nada? 
Eu quero mais. 
Eu quero cada expressão da tua repulsa. 
Meu Deus, eu quero cada linha lotada das coisas que você um dia ousou 
sonhar e 
amar e 
entregar,
bem como todas as flores do jardim que você regou com desespero. 
E as possibilidades improváveis, os segredos oprimidos, seu silêncio de cristal. 
Cada fagulha de agonia, cada probabilidade, as epifanias, os planos de fuga. 
Pede mais uma bebida e acenda-te cigarro, porque eu quero ouvir você falar a noite inteira,
a madrugada todinha.
A vida, Eugênio, precisa circular. 
Teremos tempo, 
tempo e também teremos fôlego para recordar as boas moças e as putas pagas. 
Eu quero ainda os espasmos, as portas abertas, os pulos pela janela. 
Eu quero da mesma forma que queríamos ainda há anos atrás uma partida de xadrez como desculpa para esvaziar o vinho. 
Eu quero nossos punhos errando as horas e o céu pegando fogo enquanto nossos passos vão sendo alagados lentamente, destrutivamente orgulhosos. 
Eu quero cantar aquela coleção de blues e dançar até quebrar o chão no meio-fim. 
Os caminhos indecisos estão postos e asfaltados, as dúvidas sólidas e as verdades que jurávamos certeza traíram a nossa pele queimada de sol. 
Mas eu ainda desejo-os todos. 
Como uma promessa de dedo-cruzado. Como um sono que foi roubado pela distração. 
Eu quero,
sim, 
sim, 
sim. Eugênio. 
Eu quero falar para você sobre aquela russa que vi na Avenida Principal. De pernas e braços tatuados, shortinho e bota. 
Eu quero. 
O pó, o luxo, a parede do banheiro embaçada. 
Mas não essa noite. Essa noite ficamos aqui.
Ficamos para ouvir você dizer
eu-tam-bém
quero.

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