terça-feira, 20 de março de 2012

Deste lado do muro

No centro da cidade o barulho parece ser bem-vindo. As buzinas espantam os pássaros e o pedido do mendigo parece ser tão comum como a dor dos pés desconfortáveis dentro dos sapatos apertados. A correria dos moleques pisoteiam minha rotina monótoma, e a pressa das pessoas em cima das calçadas estreitam minha esperança de vida melhor. A poluição cegam meus olhos, o barulho ensurdece meus ouvidos e o vai e vem das pessoas em linha reta me fazem dar curvas nesse lugar assustador. Minha cidade é pequena, mas eu já consigo odiar o mundo. 

Nem mesmo com a chuva abençoando nossas cabeças, a impaciência descongestiona. As luzes dos prédios, os negócios, as reuniões, a correria desencantando poemas, fazendo o dia anoitecer mais triste. E sempre fica esse espaço longe e vago entre a vida e o viver. Diminuindo nosso espaço de descanso, decantando nossos sonhos de criança e fazendo morrer o agradecimento de cada dia. São poucas as árvores que ainda preservam. 

Eu não entendo porque as pessoas ainda não escrevem cartas, não fazem música, só respiram os dias cinzas e queimam os pés no asfalto quente. Eu não entendo como podemos permitir que tombassem nossos ideais. Nos deixando improdutivos, me deixando improdutiva com medo das imposições capitalistas e da solidão, o mal do século, talvez do milênio. Terminamos o dia sem um encontre que nos salve, sem um telefonema, só com as vozes da televisão, acorrentados no sofá e pendurados no molho de chaves. 

Hoje eu perdi a chance de olhar para o céu  de manhã e desejar um dia melhor, e amanhã vou dormir me julgando pelas horas vagas. Eu não confio na resistência das paredes do mundo e acho que as rachaduras na quina da porta, um dia, vão forcá-la a cair, feito esses momentos crucias que preciso muito ter fé para me provar que o amor ainda existe, meio apertado, talvez meio torto, mas certo com exatidão quase matemática. 

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