quinta-feira, 15 de março de 2012

Fazendo contagem para a vida

Três meses tomando remédios pra alma. Dois sobre equilíbrio e um sem sentir a vida como se ela fosse. E eu volto a olhar pra dentro e  me perguntar "quando é que vou começar a morrer?". Em menos de um ano vi tanta gente ir e poucas chegarem. É uma sensação estranha. Pânico talvez? Eu queria que fosse essa palavra, só que isso me lembra os ataques assustadores de uma mulher claustrofóbica dentro do elevador que peguei um vez, e não é bem isso. É curioso. Algo como a promessa de dedo cruzado de McCord, que quer muito acontecer e nunca acontece, algo como meus pensamentos envelhecendo e meu peito querendo ser coração-bomba, expressando para os outros que, por mais que eles queiram, eu não sou constante. 

Eu nunca pensei que morrer fosse difícil. Mas eu sei que a vida não é simples, eu nunca deixo ela ser, porque eu preciso de algo pra me fazer companhia, pra seguir o meu ritmo de dias atrasados e prolongados, por causa das respostas nunca ditas, e porque essa é a minha essência. É o meu teatro e o meu caminho sem volta. Um dia dentro do outro, sem a necessidade de explicação ou dever cumprido; é o meu pré-requisito para não ser pisoteada pelo barulho do centro da cidade.

Mas e se eu estou morrendo a muito tempo? Um segundo por vez, enquanto os sonhos estão a quatrocentos e quarenta quilômetros por nanosegundo passando por meus olhos e tão longes que eu não consigo alcançar? Eu não quero morrer como sou, como minha pertencente e dona dos ideais que ocupam pouco espaço no quarto, com meus olhos flamejantes e minha rouquidão matinal. Eu não quero começar a morrer com o mundo sempre me sugando na proporção inversa, desmanchando os cachos que eu sempre quis ter.  Eu não quero morrer sem viver o futuro que eu imagino.

O tempo é minha maior assombração. Ele fica gotejando as minhas alegrias e meus pesares ao anoitecer do dia. Existe nele o mistério de momentos cruciais que me deixam perdida. Sessenta segundos em um minuto, sessenta minutos em uma hora, minha vida contada pelos tiques do ponteiro e pelos taques das estrelas, vivida aos relâmpagos do céu, como se eu não fosse a mesma pessoa. Eu sinto que não sou eu, andando em linha reta até desaparecer no mundo calculado em lenda real.

Alguém poderia me dizer o que consegui conservar que valha a pena? Eu não sou digna de viver ou morrer com as lembranças que continuam sempre na minha boca fantasma, mas agora ser a mesma pessoa me parece piada. Se pudesse, ao menos, juntar meus melhores dias de vida e sobrepor aos piores de morte, eu terei a chance de amanhã acordar e olhar a lua que ainda está se despedindo? Não, amanhã não. Eu quero o neon do luar hoje, amanhã é tarde demais para começar a morrer.

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