sábado, 28 de abril de 2012

Perigo na Praça 4

    "Eu sinto falta de contar histórias pra você debaixo da árvore."
    "É uma pena que suas promessas não me davam esperança, Arte."
    Eu sei que era dia de sol radiante. O calor estava quase insuportável e fez as cinco pessoas presentes irem para fora e sentar no banco abandonado no centro da praça. O dia estava seco e quase não havia vento, nem hora. Eu fiquei escorada no banco de trás onde tinha um casal. Eles não eram amigos, mas eu senti que já foram um dia. E por um motivo distante, sabia que a resposta invasora do homem não foi para a moça de cabelos ruivos, acho que era mais uma necessidade de por a culpa em alguém e jogar no primeiro que fosse os nós entalados que lhe causavam desmaios temporais.
     "Sabe... elas nunca me deram também" Respondeu a ruiva de cabelos curtos e quase esbranquiçados na raiz, depois voltou os olhos para as montanhas um pouco mais a frente e se fez um silêncio esticado. Então percebi que eles haviam se desencontrado. E pouco depois ele virou o rosto para o céu. "É perigoso tentar recuperar memórias, Arte." ele quis aconselha-lá e ela lentamente fechou os olhos e deixou o vento brincar com seus cabelos lisos. "Perigo é não ter o que lembrar. Perigo é amar, meu velho. É amar." E um sorriso incontrolável apareceu no seu rosto. 
    Eu quis entrar na conversa, esses momentos em que ninguém fala nada me consomem, mas eu deixei estar,  me faltou coragem pelos dois. E sem o que dizer eu também aproveitava a sombra das folhas verdes, que agora balançavam com a brisa. "Faremos de conta que a culpa não é nossa." Disse o homem que agora estava encarando forte o rosto tranquilo da moça como um pedido de perdão. "A culpa foi da mente." Ela respondeu forte e delicada. O velho homem deixou escorrer lágrimas. 
    "Você tem medo, Pietra?" E o nome da ruiva com cara de arte fez um escândalo.
    "Da culpa? No início sim, mas para todos os efeitos eu não conto pra ninguém."
     "Quando você ia contar pra mim?" 
    Açoitamento no meio da praça. Os corações foram condenados a nunca mais serem inteiros, inclusive o meu, que agora escutou e é testemunha que hoje é o tempo de cada um cuidar de si. E nessa hora eu fui embora com a voz cansada repetindo na minha cabeça "Quando você ia contar pra mim Quando você ia contar pra mim..." e virei a esquina porque eu não aguento fins. É um perigo amar pouco quem nos coloca em risco.

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