segunda-feira, 30 de abril de 2012

Multicolor

Existe um ponto decisivo entre nós: somos medrosos. Queremos muito acreditar que por trás dessas grades em que fomos condenados a morrer, existe segredos para descobrir e iremos nos virar de algum jeito. Mas não. E não me refiro a nossa coragem escondida debaixo do travesseiro, mas a nossa certeza no que vivemos e somos.

Aconteceu que, eu tinha um amigo e ontem me lembrei das incontáveis vezes que nos descobrimos querendo fazer algo novo e mudar totalmente aquilo que é dado como certo, de tantas tardes refletindo no nada e desejando bem forte que todas as pessoas pudessem ver o mundo com nossos olhos. É a alma por fora de nós, gritávamos feito loucos voltados para o céu pintado de laranja e ao cair da noite, esperávamos que a lua dourada caísse e queimasse nossos corpos.

E todas as vezes eu me enganei.

Sabemos de tudo, conhecemos as palavras mais sábias e inteligíveis, decoramos os versos inclinados para o alto, cantamos e encenamos, trocamos os papéis e fomos muito felizes. Tinha dias em que ligávamos um para o outro para planejar como seria o mundo daqui vinte e anos e montar o nosso exército que pintaria a cidade com quatrocentos e vinte sete cores diferentes e depois nos calávamos quando caída em nós que ainda estamos do lado de dentro da jaula e não o oposto.

Nós tentamos. Criamos tudo que estava ao nosso alcance. Fugimos do sistema até perceber que ninguém liga para nossa caminhada de viver da vida e só. Viam em nós a loucura e o desperdício de tempo e energia. E apagamos aos pouquinhos em cada ligação em que morreram nossa casinha feita de livros, vinho, música e arte, apagamos em perceber que só restou o sentimento de espera e um incansável silêncio de dor.

Conhecemos o mundo, experimentamos seu sabor, sentimos seus ardis. Fomos cegados, calados e imutáveis em cada nascer e pôr do sol. Tiraram de nós a esperança e sobrou apenas a preocupação em deletar as lembranças que um dia fomos livres ainda que encarcerados. "Parece que nunca mais seremos revolucionários" ele confessou numa noite e depois chorou por longos minutos. "Eu sinto muito pela gente, P." "Foi isso que faltou, eu acho." "O quê? O que faltou?" Ele me deu angústia e desligou.

Nunca mais voltamos a nos falar. Um dia eu o encontrei sentado na beira de um rio.
- Sabia que animais não se suicidam? - Ele disse olhando fixo a sua frente quando notou que eu me aproximava.
- Acho que uns bichinhos da Escandinávia se jogam de um penhasco num suicídio coletivo. Se não me engano são roedores.
- Provaram que é mentira. Quando um cai os outros pulam para tentar resgatá-lo.O ser humano é o único capaz de ser matar. - Ele disse firme e com raiva, como se sentisse vergonha do que é. E em seguida olhou pra mim, levantou e se aproximou. "Nunca devíamos ter feito isso." Ele disse ao enxugar as lágrimas e saiu para longe até desaparecer no horizonte. Foi quando eu percebi o problema de ter medo. Foi quando eu percebi que estávamos errados. Sonhamos e depois lavamos o rosto. É preciso sonhar e ter fé neles. Nunca mais vou me enganar e é por isso que eu me concentro em escrever e manter viva minha vizinhança colorida com 427 cores.

 A esperança é a única revolução verdadeira.

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