sexta-feira, 1 de junho de 2012

Alguma coisa sempre me falta

Choro livremente na madrugada até o s do sol da rua de Azevedo aparecer, como se essa fosse a solução. Meu azar é ter sempre esperança. Enquanto as lágrimas caem simultâneas ao apertar das mãos eu vou perdoando alguém do meu crime. O crime? Meus sentimentos revirados pelo medo, e eu não vou colocar a culpa na imperfeição das coisas, porque nasce em mim a fórmula do choro tão frágil e trêmula porém tão viva que é esmero. Assim como alguém ri sincero e leve depois de uma sátira e depois vai se deitar triste por viver um dia comum. O mundo me enche de espanto por isso eu o deixo extravasar pelos olhos. 

O amor pelas coisa surge agudamente e prossegue ríspido e bonito por um caminho sedutor e escuro. Escrever me apresentou com um olhar esgotado, mal digerido e com muito amor. Um amor sucedendo o sufoco da própria existência e trocando carinhosamente, o manto da noite pela concisão vocabular dos concretistas, e dentro de mim mesma eu podia me ser sem pânico e perfeita. Com exclamações pingando forte enquanto eu danço doce e sofridamente. Deixo apenas me guiar pelos braços de algo extremamente precioso, egoísta e completo. 

Eu sou a Palavra. Ou pelo menos o que pode ser verbalizado entre os contornos da alma. Fadada a entender tudo e lamentar pelo pouco e tão pequeno coração apertado na imensidão dos sons. Eu também posso ser o silêncio e por vezes o barulho enfeitado de Bach. E será essa sempre a minha vingança: Ser o que quiser no papel e tornar concreto o que não condiz com outrem. Nem que assim eu deva viver uma vida com os olhos marcados. Marcas são bruscamente significativas e indecifráveis, feito eu, feito minhas crises no meio da madrugada. 

Qualquer instante que decorre do choro contido em palavra é vazio e inóspito à mente supérflua. Seria preciso muitas batalhas travadas, segredos desmascarados e sabedoria densa para atingi-lo. Tudo porque é perigoso demais, insano e incompreensível. Mais consistente ao final, porém delicado e logo se perde. Mutações acontecem assim como os minutos passam, e assim que o dia termina já não sou mais eu quem mora e sim, a sombra do lugar seguinte. O lugar é, portanto, não alcançável nem por minhas meditações. Penso a esperançosamente de tocá-lo, pintá-lo e expor às retinas curiosas e depois me assusto com o poder do espelho: Minha essência, fui impedida de conhecer. 

Falta muita coisa. Eu nunca sei qual a melhor hora de ir embora, por exemplo. A esperança brota verde vivo e me colore também, então eu nunca desisto. Seria importante uma declaração das razões vagas que rodeiam e em seguida correm para tão distante e infinito esquecimento do que é mesmo a realidade, para ter o mínimo de entendimento do que escorre pelos meus dedos, mas as mesmas razões que por aqui passeiam viajam também por outros caminhos e todas as vezes reaparecem camufladas, quase novas. 

A conclusão é nada menos que prematura. Que persiste em crescer mais rápido que eu e me vence no neon da lua. E é por isso que eu choro, mas depois das ruas de Azevedo é só espaço em branco. Nem ele decifrou a invariável inconstante e misteriosa que vem depois de um texto. Muito menos que o antecede. A verdade é que de longe eu sei que você concorda, então deveríamos conversar durante toda a noite e observar se a lua brilha mais ou se apaga. O pior que ainda assim, alguma coisa faltará. 

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