segunda-feira, 4 de junho de 2012

O peso de ser feliz

Uma angústia entra sem aviso prévio e despenca: Estou tristemente feliz. E a felicidade acontece como um desespero brando repousando sobre os sentimentos mortos com cuidado para não acordá-los. Mas firme. Viva na presença e com agonia. Até os cômodos parecem brilhar mais, as pisadas soam mais leves, o dia prossegue mais longo: Aquela sensação mentirosa dos contadores de histórias, porém, tão perto que respira ao lado do meu pescoço com ar quente que me sobe a cabeça o vácuo de ser alegre. Quem irá perceber a dor dos móveis empoeirados e estáticos, gritando o tempo passado como testemunha da existência profunda que ninguém alega haver?

Eu tenho perguntas demais para ser feliz, só que de repente eu sei que existe um outro lugar mais confortável para encaixar a dor ou uma forma de forçá-la acontecer até que seja sua própria inibidora. Como um braço que dói só pelo fato de ser o direito, porque caso fosse o esquerdo, seria mais suportável tê-la. Ou um corte fundo e sangrento que arde e por puro amor a cor, deixo escorrer o vermelho sobre a pele, até que goteje doce o ardil e permaneça nosso aspecto igualitário. Então fica fácil acomodar os risos descontrolados e sem origem sólida com as lágrimas grossas chovendo sobre o mesmo rosto pálido e sem beleza. Por um mísero beco de escuridão eu suplico um pensamento, algum que derrubaria a felicidade tão terna e solta: nenhum. Agora eu só sei viver.

Impaciente movimento interior: Mas e se a dor for tanta que nem o corpo nem qualquer matéria a sugaria até o fim? Eu quero dizer que o sorriso me cansa. Me contorce e cansa. Da última vez que fui feliz eu não entendia e não consegui refleti-la. Feito Cícero e seus vagalumes cegos: Chamam de derrota. E é isso mesmo, ser feliz é uma derrota. E eu sempre fui corajosa para enfrentar o raciocínio das coisas. Flui de mim a velocidade de chegar primeiro e filtrar sua essência até que nada será tão óbvio em somente existir. A vida existe. Mas não por si só. E aceitá-la tão simples assim me machuca, ofende, corrói. Preciso tomar cuidado com essa certeza para que ela não voe: não pode ser material, por isso, devo me transpor para além do palpável.

Tão denso, mas claro, como não pude imaginar antes? Me vingo: nada tem sentido na felicidade. Ela é almejada só que depois é vazia, um vasto abismo sem anseios. Pelo quê lutar, por quem chorar, quem irá de sentir pela madeira dura dos móveis? Eu hei. Agora sinto dor no estômago e um bolo na garganta. Estou pronta.

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