sexta-feira, 15 de junho de 2012

Uma história dentro da história

   Ela não tinha palavras para mim. Ela, na verdade, não tinha palavras para ninguém, nem para si própria. Eu pedi. Eu quase implorei que lúcida a mente me respondesse a lógica de enlouquecer, mas nada. Ela só dizia que via as pessoas como sóis. Ela não amava mais ninguém, ela amava todo mundo.
   Imaginar a razão que me leva escrever sobre essa menina me traz à angústia, porque eu quero muito contar o novo brilho dos seus olhos, como eles choram consolados por uma força superior e dominante, tão sábia e calma, mas um choro, por Deus, medonho. E também sobre os seus movimentos rápidos e desapercebidos, seus cabelos medianos queimados e sem corte. Eu quero que todos sintam a dor que ela me causa por perder o controle, mas não sei lhe contar. Ela sugou as palavras de mim também.
    Eu posso adiantar que sua voz me espanta desde de sempre, mas que ver seus sentimentos aflorando tão claros e desprotegidos quase me destrói. E seu nome: Augusta. Nome forte de gente sofrida que sabe demais o que não deve. E sabe mesmo, sabe tanto que surtou. Que eu esteja livre de conhecer a origem das coisas para não desacreditar em seu fim. 
    "O ser humano não se suporta ser, é isso". Ela deixa o corpo pensar alto sem querer, e a ideia atira em minha direção como se roubasse de mim o que estivesse guardado para um contexto especial. "Quê?" Economizar tempo para o pensamento fluir mais leve e filtrado. Mas tudo se conclui em si mesmo. É assim que se descobre as essências mais importantes: no que não é dito. Então sente e ouve o que tá explícito nas entrelinhas: sentir maior que o que se pode suportar é insano. E magnífico. 
   Eu procuro alguma frase que pudesse se encontrar com ela em alguma parte da sua certeza tonta, e impunemente castigo-a com minha frieza: sofrimento apenas. Nenhuma grande descoberta, as pessoas adoecem na própria perfeição impossível. Se alimentam na mesma mesa que a tragédia de iludir sem vergonha suas teses e possibilidades. Por que? Afrontar a realidade nos faz horrivelmente insatisfeitos. 
   Então eu conto a cena que me vem a cabeça quando seu nome sussurra no vento: ela desfilando desesperada de um lado ao outro, expondo sua confusão, seu medo, sua ferida aberta em cada afirmação ditada com certo ardor: permanecer no mundo sem deixar de crer em uma vida fora dele, apavorada sua alma dizia. E bateu tão forte que excluía a impossibilidade no pensamento não ser absorvido e tornar-se minha ganância. Raciocino: sofrimento com natureza de vontade interrompida. Isso isso, poderia ser. A ganância? ferozmente me poupo da origem, porque como já percebido é integra porém poderosa demais para mim.
   Olhei-a novamente, percebi que havia emagrecido, mas mantinha o aspecto de alegria e saúde. E a invadi mais uma vez
   - Augusta! Responda. 
   Ela engolia as palavras, as explicações que descobrira e também inventara numa noite que pusera-se a facilmente chorar e rir simultaneamente, abandonada e triste. Ela não tinha palavras. Até que soluçou uma vontade.
   - Eu... eu não tenho medo. Nervosa, aflita, parecia que em tempos vomitaria o pulmão para fora.
   Permanecemos um instante abraçadas. O coração blindado e agressivo batendo, para sair ou ficar? Para bater sem culpa, sei. Ela sorriu contente e forçado como se nada tivesse acabado, mas como se esse fosse apenas o início: haverá um dia em que todos nascerão sóis.
   

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