quarta-feira, 10 de outubro de 2012

          "Já que se há de escrever, que pelo menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas"

         É mais uma conversa daquelas de acordar a noite horas mais cedo. E chamar a lua como testemunha de que todos os amores jovens são reais. Então eles saem andando pelo quintal, e ela o segura pelo pulso e ele a abraça pelos ombros. Eram um do outro sem saber, e sentiam antes que pudessem saber de qualquer coisa.

          - Você casaria comigo, amour?
          - É claro que não.
        - Mas casaríamos na biblioteca, onde todas as mais belas e trágicas histórias de amor estão guardadas. 
          - Dublin? Amo a Irlanda.
          - Seria maravilhoso.
          - E você cozinharia para mim?
          - Nenhum dia sequer, você sabe que eu não sei cozinhar.

         Mas eles se adiantam antes de o sol se pôr. É tempo perdido demais até que entardeça, é por isso que ele faz dos seus olhos negros as estrelas que ela quer contar. E as luzes ficam escondidas debaixo da sola de seus pés, e a medida que caminhavam, o céu escurecia e tudo ao redor se entregava. Eles ainda insistem em sonhar para não enlouquecer, para sarar, para ignorar o sol escaldante da manhã. Ela prendia uma mecha dourada do seu cabelo nos dedos dele, e sobrevivendo, também podia ser lua que ilumina o abismo do seu coração. 

          - Como me caso com você se você não cozinhar?
          - Mas eu sei fazer amor, meu bem. 

          E continuavam, agora até, mais sonolentos. O amor era refém em suas mãos. É no escuro que se incandesce, e nem todo negror é da noite, existem outros mais eficientes. 

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