quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Chove no quintal. Faz silêncio como dever ser feito. Toda vez que chove, a cidade descansa em luto. Fecham-se as janelas e goteja o telhado. Um pingo por segundo. Um segundo antes de tudo. Mísero tempo de amar, chorar, ser feliz. É a contagem regressiva para o fim do mundo. E antes de ir embora, um poema não recitado permanece nas bocas fantasmas. Dia que parece cinzas. Ouve-se o barulho dos pés atolando-se nas poças d'água. O rádio chiado. Talvez alguém pudesse rir, outros conseguem apenas calar. O nosso cansaço é o pior castigo. A chuva matem a queda. Eu poderia tentar ascender na vida, mas o tempo passa sem que eu saiba fechar os olhos. Solidão ainda é um tipo de arte perigosa. E boa porque não mascara o medo. Tempestade. Um minuto atrás soa como um passado distante que eu não quero lembrar. Alguém se aproxima com xícara quente. Febre de paixão. Não se pode mais ver os pássaros e o horizonte longe e vago. Um espaço inocupado. Alguém e eu desejamos as impossibilidades, mas não sabemos preservar nada que não tenha dor. Existe um continente submergido por essas águas em que liberdade e alucinação estão metamorfoseadas. É lá onde ninguém vive por precaução, mas fugiria por uma semana. Até duas. A verdade nega em desaparecer. Tristeza mesmo são as lágrimas não derramadas. 

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