domingo, 3 de fevereiro de 2013

Um bilhete de quatro parágrafos para alguém de quatro vidas

         Ontem, eu pensei que fosse a última gota de orvalho na iminência de cair, de escorregar, ali pendurada recusando dar a gota. O pior da solidão é pensar que a ausência vai, um dia, ser menor que a dor. E a dor vai achar glória diante do silêncio. Ainda mais eu, que não sei nem escrever o amor nem amar. 

        Mas, percebi que eu não sou tão importante assim, Miguel. Simplesmente, não posso me achar digna de ser o fim. A inalcançável última-rosa-do-deserto, com pétalas milagrosas. 

         Acontece que eu deixei de chorar. Uma mulher de verdade despreza sua firmeza para ter essa honra e eu assumi os direitos que não tenho: de fincar meus pés de no chão e apertar todos os gatinhos. Porque agora eu tenho auto-controle, auto-conhecimento e todas essas piores coisas que se pode ter as rédeas. Eu escolhi não herdar minhas memórias de doce menina. Acontece também que eu deixei de ter medo, Miguel. Tenho um sorriso brando no rosto buscando equilíbrio n'um coração que se permite trepidar a todo momento para sentir-se vivo. É disso que eu tenho mais asco de mim, mais arrependimento. Eu podia amar de verdade se admitisse ser fraca como aquela gota de orvalho sendo atraída pela gravidade, todavia, só consinto em ter essa força estúpida, a nobreza de um tirano, a vergonha de não sofrer de paixão. 

          Vai saber dessas coisas escolhidas na hora do impulso de vida. Vai saber também como eu me mantenho com esse lugar vago. Um buraco no peito especial para fincar o mastro da bandeira Amor, pesada demais para eu levantar com as duas mãos. E que, um dia, já produziu todo êxtase de vida que já senti. E que, muito provavelmente,
sentirei. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário