quarta-feira, 26 de junho de 2013

(Que apenas os antagônicos amantes, loucos poetas, e assumidamente Homens me leiam).

Construções eternas, era como os homens se chamavam por detrás da alucinação, do delírio ou do exagero de entendimento. Construções eternas, eram como os homens se chamavam antes de lhe darem nomes e corpos e o sentido da vida: morrer. Despencaram homens sobre montanhas depois da falência da insone beleza da infinitude. Uma ave morta é um animal em ruína irreparável, mas quanto aos homens, mais vale o voo sobre o ego, sobre as epopeias interiores, para que em um instante de miséria pensem eles serem heróis da própria imaginação, da condição melancólica, das metáforas que moram nas suas cabeças.

Estragas, defeituosas e deformadas construções. Que culpa tiveram os astros celestes, que arrogância dos deuses. De fato, nem responsabilidade nem presunção. Nenhum, ninguém, nada. Eles - os universos - falam de coisas que os homens não entendem. Por isso, choro. Inclino a coluna, dobro os joelhos e cruelmente soluço, lamurio e o eco da madrugada é inverso. Se encolhendo, se diminuindo, se contraindo, até que se cale a noite e as palavras na ponta da língua, do papel, do coração. Eu também sou homem, eu também sou humanidade, eu também sou arte apodrecendo nas montanhas, lentamente se transformando em resquícios, areia sedimentar, poeira. A montanha é uma digital do polegar desgastada e eu posso ver que todos os homens são um só. Uma alma condenada, amaldiçoada, perdida, vagando entre olhares, entre átomos, entre um nascimento e um velório, em busca da sublimidade, do surrealismo, da paisagem que um dia conseguiu deleitar à olho nu. 

Os homens são um exílio, um calabouço, uma armadilha. De faces, de símbolos, de ideologias pobres, de experiências gastas, de um mistério atordoado. E de tempo. De derrelito tempo mal aproveitado, pouco doado e muito ávido. Então os homens clamam, os homens gritam outros homens, os homens trocam nomes, trocam corpos, trocam tudo, mas permanecem livremente: homens. Condenados à liberdade antagônica de serem homens. Mais altos, baixos, mestiços ou puros, unidade plural. Presos sem possibilidade de escapar, de serem inexoravelmente homens. Que dureza é ser homem, que agonia, que sombra, que susto.  

As construções eternas, entre verbo e carne, ainda são apenas construções. O cheiro dessa montanha que caminho agora tem cheiro de suor, de sangue, de lágrima. Eternas sensações, sentimentos, epifanias, e tão passageira quanto o vento, as horas e quanto eu que, passo a passo, deixo para trás um panorama florido, inconstante e largo, extensa terra que brinca de ir e vir, espaço que ocupa outro espaço e tudo forma um desenho sem forma, sem significado e sem limite. E linda, exuberante figura absurda, abstrata, inexistente. 

Então nada importa, os signos, a emissão, a natureza, os nomes, os universos. Eu ando com calma e com cuidado sobre o relevo irregular e ando cantando, porque de relance eu compreendo que saber não ser é ser em plenitude. Não saber é uma dádiva, um presente, um dom. Não saber me faz ser homem mais completo, inteiro e me faz ser  imensurável. Quanto mais me resigno a entender é que entendo, que recapitulo, que crio História. Quando apenas tenho sede e anseio de perceber a vida, ela se desfaz, se desconfigura, se confunde, me enlouquece. Surto de todos os homens. 

Essa montanha que te escrevo tem forma de homem e é uma montanha fictícia sob acusações verdadeiras. Chegará um dia que todos os homens vão estar podres, putrefatos. Chegará um dia que os homens vão estar, um a um, em berço de morte. Nesse dia, essa montanha salvará o futuro. 

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