segunda-feira, 24 de junho de 2013

Sobre aquele amor

Um parágrafo

Guarde para mim do mesmo amor que enche seu coração dia a dia. Guarde encoberto de tristeza para que permaneça vivo e cravado por mais tempo. Longínquo, infinito e sem bordas amor. Porque você não entende nada de limites e eu não entendo nada de liberdade. Mas amor condenado não deixa de ser amor. Não passa a ser menos inteiro, menos intenso, menos pulsante. Eu sei, eu sei, quem prometeu nunca mais escrever sobre o amor fui eu, só que no instante que escrevo cumpro com todos os meus despropósitos de sempre descumprir sem culpa, como é pelo silêncio indecifrável das páginas em branco que grito. Muda e incompreendidamente grito, muda e exorbitantemente amo. Então guarde-o com delicadeza e voracidade. Proteja-o com loucura, pureza e impulso a flor da pele. Se preciso for machucar a carne, se terrivelmente não sobrar alguém, abrigue-o do tumulto da vida, do caos do próprio ser. Inocente. Vigie-o, inclusive, da minha inconstância, da minha insanidade emergente no toque. Livre-o dos caminhos contrários, do desvio de amantes e despedidas. Reque-o com seu belo choro, ilumine-o com seu belo rosto, ainda mais belo quando triste. É vital, é amargamente vital que o guarde.

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