sábado, 22 de junho de 2013

Tem dois olhos sobre a Terra. Incidem sobre a maldita vida como raios se opondo ao curso do céu. Vigília pelo tempo além dos jornais e por tudo que dói e ama. Que simplesmente arde como trágica e bela ferida sangrando na pele. E por todos os amores, por todos os punhais de prata, por todas as insônias sequenciais, risos descontroladas e pelas palavras impronunciáveis. Você pode sentir o peso desse olhar quando lhe maltrata as saudades insaciáveis e quando a derrota é pura. E quando, por um lapso, compreende a existência de Deus ainda que eu não seja Deus, ainda que seja pó. 

Tem dois olhos vigiando seus passos, tem dois olhos fabricando suas memórias. E você pisca e pisca até fraquejar e cair em profundo desgaste. E os olhos são como o cheiro dos seus lençóis novos, são a textura do seu travesseiro. E os olhos cobrem seu sono com escuridão e paz. E mesmo que você insista em acordar às três e pouco, as manchas do teto serão tão brancas e o luar será tão translúcido. E sua alma será pequena e lírica. Questionadora ao posar o pensamento nas estrelas que não são suas, nem de longe nem de perto, apenas não te pertencem, como não te toca nenhum entendimento, nenhuma coragem e bravura. E você chorará sobre o perfume das cartas que você escreveu, e derramará com desalento sua fraqueza no chão e o gosto da sua boca será insosso e seco. 

Então, escuta, atente-se a ouvir quando eu lhe falo que o segredo é que importa, que é essência, que é alimento. Você muda de casa, estica distâncias, corações, víseras em poesias, você troca os livros, os discos e sopra nuvens e não se vê no espelho. E não sabe. Não sabe como não poderia genuinamente saber. Se existe amor além do tempo, se existe tempo além da vida, se existe vida além da morte. Hoje eu penso muito em você, em penso muito sobre os olhos sondando nosso pulso, se o amanhã é sempre esse mistério a descobrir. Não duvide de mim, não duvide da dúvida. Aprenda saber não ser como eu pelejo aprender. É uma dor imensa existir e eu sei quanto como você, é um tormento escolher existir uma vez só.

As sombras daqueles que rodeiam no interior do seu corpo oco, os buracos negros do universo, ambos se multiplicando como assombrações dentro do nosso pecado. Mas os olhos, você pode deixar-se exposta à eles ou se esconder. Talvez você não entenda e é árduo entender, é difícil expor seu estômago, seu imenso medo e paixão. Esconder não é suficiente, é por isso que eu digo para despejar os sonhos mágicos e os pesadelos cheios de caos. Não é drama dos fins dos tempos, é a alma que nega o corpo e busca o sublime. Sem platonices, sem censuras e restrições. Apenas procura encontrar com fome o que nasceu para possuir.

Tem dois olhos sobre a Terra apoiados nos seus ombros. Assumidamente seguindo seu mover-se por debaixo da cova, da fossa, da própria natureza humana.

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