quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

A traição das coisas que eu escrevo, e as coisas que eu escrevo não querem ser lidas por olhos rasos, ma belle: foi o que eu pensei enquanto o céu acima das nossas cabeças se exibia e Clarisse estava longe do outro lado da sala pedindo pra ler meus antigos bilhetes de agenda. August 27th.

- A nuvem escura de spitzer está latejando uma estrela correspondente à dez mil sóis, sabia? Tentei desvio.
- E quanto à mim, o que dizes? Sou útero para pulsar cem mil estrelas e um amor.

Eu sorrio porque não há refugio. Do amor e da vida ninguém escapa, ou escapa ferido, dizendo que não se perdeu. Eu sorrio achando que posso lhe guardar no coração e segredar com ela minhas confissões escritas em pedaços de papel rosa glacê. Sorrio agradecendo em silêncio sua existência pura, insípida e frágil. E se eu pudesse apenas sorrir, eu apenas sorriria, mas por hoje também escrevo. Outra vez escrevo, porque sou desse tipo de gente que mais escreve do que diz. E porque só tenho essa chance. E porque quando se escreve tudo que não se tem é perdão de si. Absolvição de si. Tudo que se tem, entretanto, é a si somente, e hoje eu preciso de mim. Eu sei que Clarisse não entende, eu até poderia explicar pra ela, mas é silêncio, não é segredo, não é secreto, mas é silêncio.

Algumas revelações podem ser muito cruas e cruéis. Minha confissão será, tão somente será, meu sentimento, pois bem como no amor, tudo que tenho é a entrega.

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