sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Me absorveu seus olhos, cogitei, por um instante, que me olhava pela primeira vez, então disse que pensaria em mim, pensaria no meu nome e também em outro nome que me daria. Sorriu, quase triste, tocou minhas mãos. Eu continuava sentindo seu pesado e profundo olhar, mesmo quando me virou às costas e se pôs a andar pela areia. Por fim percebi que era eu quem a olhava pela primeira vez. Vi a caminhar em direção ao mar, ondas espirais carregadas de beleza e mistério como o som que vinha do seus cabelos voando sobre as costas. Uma dama leve demais, eu pensei, para sair daqui e voar comigo sobre Champs-Élysées. O pesamento não tem peso, mas eu fecho os olhos, abro os braços e gargalho enquanto sinto meus pés afastar do solo. Quando abro, ela também, de corpo entregue, está com os lábios na cor carmin e cheirando à maresia no céu de Paris. Deixe-se guiar, pude dizer, como deixo-me eu pela sua pulsação. Me beijou aqueles lábios e era como encostar a boca em brasas, depois me olhou com aqueles olhos vulcânicos e se desfez os nossos milhares de átomos. 
Ninguém acode.
Ninguém acorda.
Só eu às 3am de quinta. Reclamo Freud, as poesias perversas, e o fim do mundo que nunca acaba. Ponho-me de pé, dirijo-me à porta, nem estou em Paris, mas a temperatura é suficiente para sublimar. 

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