segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A Bela e as Feras

A verdade é que raramente fez sol depois daqueles dias. Em todos os contextos e sentidos. O sol tirou férias e levou a juventude para cima das nuvens. Dois meses. É tempo suficiente para alguém como ela beirasse um espetáculo de loucura. Depois de levar quase que toda a vida cultivando a alegria no chão de jardim com flores brancas e azuis, esses dias passaram em um fração de segundo. O segundo mais triste de Dezembro. 

Aquele episódio matou toda sua vida psicológica. Ela era frágil. Decidiu que era a hora de morrer, recolhendo as migalhas de uma memória suicida. Fez de conta que ninguém sabe seu nome, este que a própria esqueceu de lembrar.

O que aconteceu, não importa. Na realidade, só a ela interessa. Para os outros, não é justo viver. Os outros não consideram as náuseas, as dores. Até sua alma queria fugir de si, deixando pouco menos que seu rosto na sala. Sua íris ficou branca. Seu coração, da plateia, aplaudiu o próprio fracasso e vaiou como se não existisse outra alternativa, rastejou até um poço perpétuo e se abandonou.

Alguém sobreviveu pra contar o que lhe levou a invalidez de mexer os punhos e abrir a boca.

Ela, antes dos temporais, tinha uma coisa bonita, um sorriso demente nos lábios, uma vontade da vida. Não conseguia dormir, mas conversava com as estrelas. Pintava de cor arco-íris seu retrato mais especial. Era invadida constantemente pela esperança de um futuro bom.

Um futuro que se frustou pela falta de motivo para se sentir contente.
Há cinco meses tinha suspensões temporais, podia ver suas tentativas vãs de tentar ser melhor, de tentar alcançar uma luz que de tão distante desapareceu. Passado? Cenas mais recentes, mais recentes, tão perto agora. Voce acredita em acasos? Ela não. Ia mais do desconhecido aquela dificuldade de lutar.

Não é possível entender tamanho desastre sem antes seguir os rastros nas quinas das paredes, rastros de fantasmas, geralmente ignorados por sua estúpida pequenice.

A Bela, que hoje não tem mais nome e história, não era corpo, não era físico. Era o mistério de ter feras comendo seus pulmões. Todos temos feras, só que poucos sabem. Agora eu sei.

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