segunda-feira, 11 de junho de 2012

Sem pensamentos positivos

    A folha flutuava leve no ar, de um lado para o outro como se voasse por vontade própria e sem depender do vento cai fadigada, rendida, estúpida.
    Os meus olhos que a acompanhava na linguagem do céu, testemunhou do abandono da árvore até o mais solitário e indiferente pouso silencioso. Então escrevo meio trêmula e assustada: por que as coisas existem? A resposta espetou rapidamente, como se estivesse dormindo em mim há muito tempo, apenas esperando o momento certo de despertar e me envolver na sua certeza absurda: tudo tem um propósito em si mesmo, o compromisso com a existência realiza-se completamente na sua personalidade plena. Mas e quanto a mim, sou o que é meu fim ser, ou nada serei pela deficiência em desenvolver uma linha segura e completa das coisas que gosto e desgosto ao longo da vida? Fico gulosa para saber se a dúvida tem sentido. Acho que sim, até a dúvida bem fundamentada é mais óbvio do que eu.
    Agora o sol está tímido e sem força porque já são mais de quatro horas, enquanto a lua ainda espera sua vez. É assim. Durante o dia é a vez do sol, e ao proceder da noite a lua. E o dia - coitado - só é dia porque tem sol e a noite graças a lua. O papel de cada um é ser na sua essência e seu fim básico é cooperar para o funcionamento da vida, ainda que este, para que seja mais eficiente, trabalhe em conjunto, assim como o brilho da lua é reflexo da luz solar. Por Deus, aonde eu terminaria se permitisse que o pensamento fluísse cru e puro. E evoco-me numa ordem indiscutível: não, não escrever hoje. E em voz alta respiro e anoto em baixo da pergunta que jamais deveria ter sido feita (deveria?): o pensamento positivo acaba com a dúvida.
    Duas linhas abaixo, um asterisco minúsculo mas vistoso


    *Minha curiosidade é meu propósito. 

    Vingança. Assim eu não tenho que responder nada, cada coisa que se efetue na própria missão. Secreta e serena. Que mais folhas caiam, que mais dias venham. Que o ciclo continue sem fim, porque seu plano é ser um círculo grande, redondo e misterioso, sem interesses inacabados e inúteis. E que em cada espaço oco exista uma pergunta que eu tenha que fazer. 

Um comentário:

  1. Destino, talvez? Achei bem interessante, sempre me pergunto o porquê das coisas e acho que concordo com sua conclusão. Resta saber o meu propósito, e como é árduo.

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