terça-feira, 4 de setembro de 2012

Mister,

   Eu apaguei o primeiro capítulo inteiro. Apaguei em um ato de rebeldia. Rebeldia por nada, só pela vontade de ter algo para vingar. E porque seu babe nunca terá o mesmo tom que o meu baby. Você não sabe, mas eu chorei. As palavras ainda estão martelando na minha cabeça e eu não consigo esquecê-las para começar de uma outra forma. O que eu quero dizer é que eu não queria estrear com você. Nossa história já foi espetáculo principal em tantos outros palcos. É claro que eu não poderia começar de outra forma. Mas ela tem que existir ou não haverá tantos outros capítulos. 

   Eu queria que a primeira linha fosse algo menos triste. E mesmo que a solidão seja o meu maior orgulho, agora eu estou ouvindo uma música francesa alegre e eu queria ser como ela. Talvez eu poderia iniciar com a história do menino italiano que se chamava Vento. Ele existiu. Ele também é de verdade e eu não precisei matá-lo por causa de um texto. É uma válvula de escape, uma maneira de não tumultuar internamente tão cedo. Só que a história do menino Vento têm três linhas e também é triste. Tem aquela da menina que andava na rua voltando para casa e de repente passou a fazer da sua simples caminhada uma aventura. Isso é uma coisa boa não é? Ela olhou para o primeiro a sua frente e silenciosamente aceitou o desafio de adivinhar onde ele ia, era um passa-tempo bem instigante. Ela apostava corrida com ele. O problema é que ele sempre virava em algumas esquinas antes e ela nunca podia alcançá-lo. Ah, que decepção, baby: tudo tem sido triste.

   Perto disso, eu até teria alguma força para aceitar que todas as histórias são tristes. A tristeza ainda é matéria-prima renovável e abundante. Todas as histórias, qualquer uma que eu inventasse seria uma derrota. É um fiasco lutar contra um broto tão potente do universo. Então por que? Será que não existe uma outra forma de chorar que não seja por amor? Eu nunca pensei que fosse tão árduo encontrar uma palavra e a partir dela construir algo tão bonito. Existem tantos que conseguem por aí e eles não caminham lentamente como eu. Eles acumularam suas riquezas rápido, a velocidade com que os números aumentam é assombrosa. E flui tão líquido, tão puro. Será que é porque eu ainda vou a lugares tão imundos ou será essa expectativa de estar sempre a um poço mais abaixo? Na iminência de enterrar eu engoli tanta terra que o pó se tornou sangue. 

   Para ser sincera, Mister, eu acho que é porque muitas coisas ainda restam para ser ditas. A Palavra é motivo. Sempre foi, suas oscilações que nos tornaram tão ligados assim. Ainda ontem eu reli suas cartas e eu nunca me senti tão imunda e humilhada. O fato é este: muitas coisas ainda vão desvendar. Há muito para se descobrir, para crescer. Enquanto as antigas ainda fazem efeito, novas não virão. E será sempre esse ciclo vicioso que nos manterá a beira da morte todos os dias. Cada vez um pouco menos sóbrios, menos vivos, menos próximos também. Quer dizer, eu acho que é por isso que minha cabeça dói e recentemente tive fortes náuseas. Eu não sei sobre o que é. Mas quero tanto que você saiba. Para assumir as rédeas, impor os limites. Aliás, impor significados as coisas que não existem. Àquelas que aconteceram de súbito e nunca mais vieram a se manifestar.

   Eu também quero que fique claro que eu sinto um pouco de saudade das metamorfoses, a fugacidade que os medos vinham e se acomodavam ao mesmo tempo que tantas outros caos se formavam e transformavam. Era perfeito na medida que devia. Inocente e prematuro. E que assim como eu, você não será perdoado. O mundo não pode esperar e isso não foi culpa de alguém. Não se trata de culpa. É remorso. A fraqueza como uma confissão. Um ato de covardia também, mas substancialmente, porque tudo se foi antes do fim. Só nos restou ver tudo se esvaindo sem coragem para impedi-las. Eu esperei tanto que você as parasse. Esperei tanto que eu as parasse. Mas o mundo não pode esperar, baby. É essa pressa que chicoteia o meu coração.

   Então talvez eu só deva esperar. É agora escrevendo que vou descobrindo que talvez é melhor os capítulos não serem numerados. Nem tudo se principia no primeiro parágrafo. Existe apenas a áurea, a certeza do que foi ou não real. O tempo cronológico é piada para o fluxo de consciência e, de verdade, eu não dou a mínima para quantos irão buscar entender. O caos já foi organizado sem permissões. É melhor, eu acho. Estou sempre achando que sei demais sobre a gente, mas agora isso veio como uma resposta a longo prazo que até constrange o meu rosto. Nós deixamos de correr a milhares de voltas antes da linha de chegada então o que custa deixar o resto das coisas incompletas? É isso mesmo, baby. É isso mesmo. O capítulo já foi ao lixo e não se pode recuperá-lo, mas ainda não é it's all over. Eu vou deixar todos os seus resquícios pausados. Esse amor ainda é o meu clichê favorito.

Eu não gostei desse texto, mas postei mesmo assim porque foi muito sincero e impetuoso

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