terça-feira, 28 de maio de 2013

A noite te vê caminhar sobre a calçada irregular, tropeçando nos sonhos que não teve, tocando os muros rabiscados. De cabeça erguida e ombros exaustos. A noite pensa que te tem nas mãos, pensa que te domina te carregando pelo vento forte, te oferecendo esquinas, sinais vermelhos. A noite encobre a cidade porque você está lá, dentro da metrópole, indo sempre aos mesmos bares. Mas essa cidade não te conhece como eu. Bem como nenhuma outra cidade ou noite conhecerá essa pele sua que eu acaricio com desespero transbordando pelas mãos. Esse rosto seu, uma máscara, que eu cubro com os cabelos como um lençol protege os velhos móveis na sala da sequidão do tempo. Ou como aquela casa, vazia e branca como é, um cristal de sonho nos assistindo calada e despida. Sugando o nosso sangue com vontade de criar em si a mesma vida que corre pelo nosso corpo em movimento, dominados pelo som da dança sem nota musical. Só pela melodia da nossa alma inspirada. Dos nossos olhos famintos e da nossa boca covarde. E nem mesmo você, você que não sabe da dor e nem sabe do amor que eu sinto. Mas eu digo sim. Eu aceito e não vejo problema em aceitar. Seu pouco, seu quase nada. Eu recebo sem escolha e sem arrependimento. Com esmero e primor. Com liberdade para ir e vir, para rasgar meus papéis em que rabisquei seus passos. Sua história, seu conto tirano. E com vontade, com força. Como um desmoronamento. Um incêndio. Uma desordem e caos palpitando no peito, no pulso, batendo junto ao coração. Essa cidade não te conhece como eu porque nunca te tocou. Essa noite não te conhece como eu porque nunca sentiu seu suspiro quente. O seu corpo e o seu hálito. Pura poesia das palavras proibidas que um dia eu jurei não pronunciar, mas que me descobrem mais feroz do eu imaginava. Feito uma mágica, um susto, maravilhadas pelo espanto. Eu-te-amo. Por um lapso. Eu-te-amo. 

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