segunda-feira, 1 de julho de 2013

Despedida de um planeta blue

A cidade está cheia de valas, ralos e becos para onde meu coração escorre feito líquido volátil. O primeiro senso, little girl, é a fuga. A cidade está cheia do cinza do cigarro que você manuseia com destreza e traga com prazer. A cidade é um espaço ocupado pelos cômodos vazios dos pensionatos e pelos passos que perambulam nas ruas estreitas, compridas e egoístas. Você é só mais alguém nessa fila para a saída de emergência como eu sou só mais alguém que chora com medo. Chora porque há águas negras nos oceanos capazes de me encobrir a lágrima. 

Eu só estou procurando uma forma de escapar viva, de manter os olhos alvos e a palavra escrita. [E nunca mais um texto meu, e nunca mais uma luz que reverbera audaciosa e exibida]. A vida também apenas espera, ora apressada e aflita, ora calma e obscura, mas silenciosamente espera. Aguarda o tempo passar e os homens atrás dos bigodes e as moças que se recolhem no abdome. Você e eu quase conseguimos sorrir no instante que um passo a frente é dado, porém a vida, little girl, quer ser mais veloz, quer ser satisfatoriamente rápida. A vida não cabe na gente, a vida não cabe nessa cidade, a vida não se limita, se contenta, se reduz ao ventre. 

Ao menos, há a companhia. Os dedos se cruzando, os seios se comprimindo em caos coletivo. Nós conhecemos o mundo como ninguém, nós conhecemos os universos, os gemidos do mar e nutrição verminosa da terra. Nós queríamos mudá-lo, extasiá-lo com nossa arte, com nossas histórias e veja agora. Veja o pecado do primeiro homem se disseminando, veja nossa covardia sobressalta. Tudo, little girl, tudo não passa de pó, de tentativa vã, de cansaço. Seu braço aberto é um molde para eu repousar a cabeça e soluçar. Porém o meu amor é grande demais que não se encaixa. O meu amor é maior que a cidade e a vida, é maior que eu e você. E o meu amor não cabe nessa mala que carrego e pretendo levar para a despedida do planeta. 

Os alpes estão envelhecendo, os mares estão se secando, as flores perderam a cor, o céu perdeu o tom e nós perdemos o sabor de gente, de pele, de hálito. Caminhamos para este dia concomitantemente conscientes. Não se pode reclamar, arrepender: todo ato é remorso. O mundo se transformou em um buraco, uma cova de si mesmo. E eu só tenho vontade de ficar com ele, de me desesperar e sofrer com ele, porque eu também não me suporto, porque eu também sou egoísta demais para salvar alguém. E talvez, little girl, há muitas possibilidades nesse planetário, muitas outras cidades, vidas e amores. Mas eu, eu mesma, sou o vão dessa inútil existência. 

Um comentário:

  1. Vc cria umas imagens arrebatadoras com suas palavras, causa uma perplexidade, como cair do cavalo e ficar cego, ou imaginar cair do cavalo e ficar cego; fechar os olhos e recordar a luz das imagens contra a cortina da mente.
    Abraço
    =)

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