As páginas de Proust e a rádio online de jazz. A minha fotografia na estante parece uma promessa que nunca se cumpre. Ian Curtis fraqueja na televisão e eu fraquejo com ele, pois também gostaria de ser uma serigravura do Andy Warhol pendurada na parede, ou assistir meu rosto em vinte e quatro mil frames por segundo. Chorando. Sim, a beleza emergente e pura da derrelição de minha alma estampada num rolo de filme.
Mas, ah, meu corpo que insiste em ser vida, ah, meu corpo que é vida, meu corpo que é festa. É como o dançar dos espirais das ondas, carregados de mistério, pelos quais dedico minha incompreensão catatônica em um sacrifício divino e ex-tre-ma-men-te vital. É feito um anjo com pele de vidro e cabelos de fogo sem pudor, sem barreiras, sem abrigo. Com ninguém.
Ah, se ele, o meu corpo, que se atrai ao onirismo de Dalí e Bañuel como uma paixão desenfreada, um insulto, uma provocação se rendesse as imagens... as imagens têm o poder de me despertar a mim mesma em um susto, uma sombra, quase uma liberdade. Ah, se o meu corpo se entregasse em plenitude ao sonho do cão andaluz.
(Eu haveria de ser o mar, a música, o fogo).
Nenhum comentário:
Postar um comentário