sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

"Para que só em mim seja provado o quanto corta uma espada num rendido"

Idas e vindas cortando o asfalto. A mão desgarrada da sua e a boca longe da sua com quase uma vida de atraso. É o tempo: os minutos esticados no relógio nos transformando em corpos infinitos em um universo que começa e acaba no abdome nos trouxe medo e esperança, como o amor. 

Você não se sente mais a mesma pessoa, eu também não. É por causa da intensidade, mas sobretudo, porque conseguimos encarar a verdade, com assombro, mas sem máscaras. Depois da verdade, mon amour, jamais se pode ser o mesmo, a gente vive eternamente lagrimejando os olhos, mas somente depois da verdade é que a lágrima consegue cair. Goteja e inunda. 
Goteja e goteja e inunda. Um minuto de silêncio pela saudade, dois pelo espaço desocupado. E o resto do dia para amar por todo o tempo que você segura no pulso.

Eu entrego que te amo.

Então eu te espero junto aos enigmas dos nossos passos indo e vindo cortando o asfalto no dia vinte e dois. Eu te espero até ser pago o preço. Ninguém podia imaginar, nem mesmo nós dois. Mas eu te espero porque eu tenho essa necessidade de ser sua, de ouvir setecentas declarações de paladar seco e o cheiro do seu suor se alojar no meu ouvido. Eu te espero para florescer na raiz dos pés.

A surpresa de suportar os relógios parados é grande, ainda mais para nós, que sempre abusávamos do tempo, que nunca mandamos os nossos sonhos embora perdidos por causa da pressa, ponteiros matando minuto por minuto, sem trégua, e nossos olhos ainda fixos, nariz com nariz construindo galáxias, o universo do seu beijo que só se forma nos meus lábios. Logo a nós dois, coube esperar. 

E agora, seu queixo escorado no meu ombro, pesando tristezas, confessa que pegará a espada, é sempre guerra ter nas mãos o amor, rendido, refém. O amor apaixonado por nós. E a sua voz se encaixa tão bem no cômodo vazio, o eco que vai garantir por mais algum suspiro o nosso sustento. Então é aquela conversa de novo, nariz com nariz, sua mão afogada no meu cabelo, você confessa como é se reconhecer. 

Enquanto isso, a vida nos espera, e nós vamos inebriantes viver, com o coração desbravando no peito, certos de que há histórias inesquecíveis e daremos conta de não esquecê-las por inteiro, por causa dos detalhes que nunca partem e por causa do calor do asfalto, dos lençóis e do abraço que chamuscou a pele. O corpo é a maior cicatriz, amour, é por isso que não afastamos a memória.

E porque teremos de volta as horas correndo, atravessando nossa vontade de colo e beleza, sem medo do tempo. Assumindo as rédeas como o inverno rouba pássaros e o outono rouba as folhas. 

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