terça-feira, 8 de julho de 2014

Tereza acorda às 9. A solidão pousa em seu peito às 9:12.

Ainda deitada traga o último cigarro de sua vida: prometeu parar, "mas só hoje, só mais um". Lembrou-se de quando a cidade dançava pelas ruas a arrastando-a para o show, de quando pulava de boca aberta ao som de Titãs, de quando abandonava-se nos braços de outro, e dos fogos de artifício queimando como queimava o seu peito, e queimando como constelações e queimando como as palavras na ponta da língua. E ela sorria com dentes famintos por amor. 

(Deve ter algo de reconfortante em se acostumar ou se esquecer. Ou talvez reste apenas a saudade. Certo é, que as vezes, precisa-se da ilusão e do sonho.) 

Havia muita vida para ser vivida se Tereza apenas fechasse os olhos, por detrás das suas pupilas, para além de mercúrio tatuado nas costas. Agora a cidade inteira pesa nos seus ombros leves e pouco largos: o mar tão longe de casa, os bares tão lotados e o horizonte intocável da janela. O horizonte nunca está quieto, jamais. 

Não é a cidade que a assusta, Tereza é que tem o coração sentimental, sinestésico e sintomático. 

Ela é quem assusta a cidade. A sua expressão quando acorda. Às 9:17 a cidade vê o seu rosto. Seus demônios todos sentimentais. Uma lágrima nos olhos deles, somente nos deles. Tereza vira-se para o outro lado da cama e lê o recado "não fume". Tereza rasga o papel e acende outro cigarro.

Triste mesmo é quando se sente tanto que não chora.

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